quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Jesus

Hoje encontrei Jesus.

Náo aquela lendária figura revolucionária cujos relatos infelizmente estejam restritos aos dizeres da bíblia. Nem tampouco o menino modelo que se aventura na fama de Madonna. Trata-se de um niño pedinte de Montevideo que, no cenário da América Latina, só se distingue dos nossos e do homem nazareno por seus olhos azuis.

Maiana pediu minha atençáo para o menino que se encontrava atrás de minhas costas, eu do lado de dentro, ele do lado de fora. A hierarquia social de forma alguma permitiria que a criatura se sentasse à mesa conosco. Entáo, como um salvador dos injustiçados, eu peço ao garçon uma linguiça para o pedinte enquanto decido entre as batatas noisette e o riso a la piamontese como acompanhamento da minha suculenta picanha.

Jesus continua do lado de fora, brincando com uma bola de malabaris depois de já ter se vingado da fome, sendo ignorado pelas pessoas que entram e saem, até que um outro casal compadecido por sua causa lhe dá atençáo. Neste instante tenho o orgulho ferido por náo ter sido o último santo protetor do planeta.

Sentimo-nos culpados diante do reflexo da luz sobre o vinho de uvas cabernet. O cálice tem gosto de sangue dos prejudicados pelo sistema que, ora incentivamos, ora condenamos como hipócritas que somente encontram dignidade nessa raça a qual pertencemos.

Como última prova de minha generosidade busco por Jesus para pagar-lhe algo mais por meus pecados. A essa altura já se foi para casa dormir com sua máe, se alguma Maria existir.

Às vezes acreditamos que o julgamento que fazemos a nosso respeito é demasiado cruel. Náo nos enganemos, nada é pior do que fazemos todos os dias com os nossos pequenos profetas.

"A indiferença destruirá a espécie", disse Jesus.





sábado, 9 de janeiro de 2010

Tudo em Ordem

Alan, hoje eu não quero escrever nada, talvez por não ter do que reclamar das coisas que andam a acontecer aí nesse seu mundinho.

Esse negócio de ficar mexendo no caldeirão, cozinhando pecadores no enxofre e espetando o rabo deles com o meu tridente é muito enfadonho. Aproveitei o bom tempo que fazia no Rio para ver como andavam as coisas em meu reino.

Logo de cara vi que tava tudo em ordem. O Eduardinho, um dos meus enteados mais dedicados, está metendo bronca nas favelas cariocas. Imagina só, o menino enganou direitinho os moradores de lá, conseguiu arrancar deles os votos que precisava e agora mete o pé na bunda deles! Ele é fantástico!

Há pouco tempo eu pedi a ele que livrasse as praias desse bando de trabalhadores pobres. Mas não conseguia pensar em um nome adequado para tamanha perversidade, até que o sacana me aparece com a ideia: Choque de Ordem. Perfeito. Nem das profundezas de minha essência maligna poderia ter batizado esse mecanismo de repressão com tanta criatividade. Mecanismo, aliás, que lembra aqueles doces anos de ditadura militar.

Ai como tenho saudades daqueles tempos de tortura, intolerância, censura. Se bem que quase nada disso se perdeu com o tempo. Tô sabendo que os milicas estão putos com o barbudo do Lula porque ele decidiu mexer em arquivos desse passado áureo em nome de uns tais direitos humanos. Fala sério! Humanos vivem para sofrer, especialmente se são brasileiros. É claro que para alguns deles eu dou uma forcinha, apago o nome sujo deles na memória do eleitor, coloco um dinheirinho na cueca deles para subornar juiz e por aí vai.

E por falar em direitos humanos, você não sabe da maior. Esse pessoal da Igreja está preocupadíssimo com a questão do aborto e do casamento gay. Vê se pode! Com tanta miséria e guerra para se preocuparem, eles ficam fazendo biquinho só por causa da própria natureza humana que eles ignoram magistralmente. Melhor pra Mim, que sigo em caminho livre a semear maldade em fatos mais relevantes.

Fatos que virão à tona em breve e que, assim como os que acabo de vos dizer, deverão ser mantidos em sigilo.