terça-feira, 19 de outubro de 2010

Manifesto por um DCE Apartidário

Aos alunos, ex-alunos, professores e funcionários da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.


Este Manifesto tem por objetivo legítimo trazer à Luz uma crítica ao uso político de uma Instituição Estudantil que, por definição, deve ser utilizada exclusivamente para o atendimento das necessidades inerentes às atividades acadêmicas.


Fica-se subentendido que fica excluído do aparato desta Instituição o uso de sua imagem para promover quaisquer personalidades políticas ou partidos através de suas atividades dentro da Instituição.


É dever do Diretório Central dos Estudantes estabelecer o debate democrático que cerca a pluralidade de interesses e de preferências que regem as escolhas individuais de cada estudante da Universidade.


A atitude de se criar um Manifesto a favor de determinado candidato político possui caráter incondizente com as atribuições legais do Diretório. Sua publicação apócrifa somente não faz por torná-lo ilegítimo por ter sido divulgado por este meio de comunicação através de um de seus membros.


O Diretório Central dos Estudantes deve ter como princípio incentivar as atitudes individuais e coletivas dos estudantes, não impondo aos movimentos e eventos realizados por estes a participação de candidatos de determinado partido político para divulgação de sua imagem.


O Diretório Central dos Estudantes da Puc-Rio não é palanque político. É inadmissível que o DCE se utilize de suas faculdades para promover partidos e candidatos de sua preferência. Torna-se mais que necessário que o Diretório Central dos Estudantes se abstenha da transferência de seu posicionamento político-partidário para as atividades acadêmicas, que devem ser fomentadas no princípio da pluralidade de interesses e ideias.


Luz para nossos entendimentos, pela Democracia.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Há festas e festas

A festa, para Jean Duvignaud, antes de representar apenas gratuidade e diversão, possui um teor revelador da vida social. Ela é dotada de um caráter subversivo, gerando não só alegria, mas ainda rupturas e transformações profundas. São as chamadas "festas de desregramento", como as que ocorreram logo em seguida à Abolição do regime escravista.

Passadas pouco mais de duas horas que a Lei Áurea havia sido assinada pela Princesa Isabel, cerca de duas mil pessoas esperavam por ela na pequena estação de trens em Petrópolis, entre elas ex-escravos e quilombolas. A rapidez da comunicação via telégrafo elétrico, recém-chegado ao Império, levava as boas novas a quase todo o território nacional por onde passavam os fios do telégrafo e limitava a reação anti-abolicionista.

Na capital do Império, no Rio de Janeiro, a festa começou imediatamente ao anúncio da Lei. Era um domingo e o samba estendeu-se por oito dias, até o domingo seguinte. Não houve tempo nem moral para reação.

Tudo parou. Repartições públicas, correios, portos, trens de cargas, escolas, o puteiro da Zezé. A Câmara dos Deputados, mais sensível ao voto e à pressão popular, entrou em recesso por cinco dias. O Senado vitalício, com a opinião dividida, fingiu ignorar a festa popular e oficialmente não suspendeu suas atividades. Não é preciso dizer que o plenário ficou vazio.

As marchas percorriam as ruas das grandes cidades, passando em frente às casas dos ministros e da gente importante, para mostrar-lhes a irreversibilidade do tempo, como que para lhes dizer: "Preste atenção em nosso magote! Não se esqueçam, hein, agora somos livres!"

Todo ministro foi visitado e, mesmo que não simpatizasse com o que acabara de suceder, tinha que aderir ao movimento, correspondendo aos vivas com o mesmo entusiasmo com o qual os recebera. Em Minas, por conta do frio, o vinho e o conhaque foram por conta do Padre Figueiredo Caramuru.

Em Salvador, obviamente, a festa concorria com a da capital do Império. Houve muito discurso, passeatas de estudantes e muita música. No dia 18, sexta-feira de Oxalá, uma multidão de branco saiu em romaria até a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim para agradecer a conquista.

E "quando essa missa terminou e, por toda parte, quando a grande festa conseguiu terminar, dias depois, a escravidão simplesmente não existia mais."




quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Jesus

Hoje encontrei Jesus.

Náo aquela lendária figura revolucionária cujos relatos infelizmente estejam restritos aos dizeres da bíblia. Nem tampouco o menino modelo que se aventura na fama de Madonna. Trata-se de um niño pedinte de Montevideo que, no cenário da América Latina, só se distingue dos nossos e do homem nazareno por seus olhos azuis.

Maiana pediu minha atençáo para o menino que se encontrava atrás de minhas costas, eu do lado de dentro, ele do lado de fora. A hierarquia social de forma alguma permitiria que a criatura se sentasse à mesa conosco. Entáo, como um salvador dos injustiçados, eu peço ao garçon uma linguiça para o pedinte enquanto decido entre as batatas noisette e o riso a la piamontese como acompanhamento da minha suculenta picanha.

Jesus continua do lado de fora, brincando com uma bola de malabaris depois de já ter se vingado da fome, sendo ignorado pelas pessoas que entram e saem, até que um outro casal compadecido por sua causa lhe dá atençáo. Neste instante tenho o orgulho ferido por náo ter sido o último santo protetor do planeta.

Sentimo-nos culpados diante do reflexo da luz sobre o vinho de uvas cabernet. O cálice tem gosto de sangue dos prejudicados pelo sistema que, ora incentivamos, ora condenamos como hipócritas que somente encontram dignidade nessa raça a qual pertencemos.

Como última prova de minha generosidade busco por Jesus para pagar-lhe algo mais por meus pecados. A essa altura já se foi para casa dormir com sua máe, se alguma Maria existir.

Às vezes acreditamos que o julgamento que fazemos a nosso respeito é demasiado cruel. Náo nos enganemos, nada é pior do que fazemos todos os dias com os nossos pequenos profetas.

"A indiferença destruirá a espécie", disse Jesus.





sábado, 9 de janeiro de 2010

Tudo em Ordem

Alan, hoje eu não quero escrever nada, talvez por não ter do que reclamar das coisas que andam a acontecer aí nesse seu mundinho.

Esse negócio de ficar mexendo no caldeirão, cozinhando pecadores no enxofre e espetando o rabo deles com o meu tridente é muito enfadonho. Aproveitei o bom tempo que fazia no Rio para ver como andavam as coisas em meu reino.

Logo de cara vi que tava tudo em ordem. O Eduardinho, um dos meus enteados mais dedicados, está metendo bronca nas favelas cariocas. Imagina só, o menino enganou direitinho os moradores de lá, conseguiu arrancar deles os votos que precisava e agora mete o pé na bunda deles! Ele é fantástico!

Há pouco tempo eu pedi a ele que livrasse as praias desse bando de trabalhadores pobres. Mas não conseguia pensar em um nome adequado para tamanha perversidade, até que o sacana me aparece com a ideia: Choque de Ordem. Perfeito. Nem das profundezas de minha essência maligna poderia ter batizado esse mecanismo de repressão com tanta criatividade. Mecanismo, aliás, que lembra aqueles doces anos de ditadura militar.

Ai como tenho saudades daqueles tempos de tortura, intolerância, censura. Se bem que quase nada disso se perdeu com o tempo. Tô sabendo que os milicas estão putos com o barbudo do Lula porque ele decidiu mexer em arquivos desse passado áureo em nome de uns tais direitos humanos. Fala sério! Humanos vivem para sofrer, especialmente se são brasileiros. É claro que para alguns deles eu dou uma forcinha, apago o nome sujo deles na memória do eleitor, coloco um dinheirinho na cueca deles para subornar juiz e por aí vai.

E por falar em direitos humanos, você não sabe da maior. Esse pessoal da Igreja está preocupadíssimo com a questão do aborto e do casamento gay. Vê se pode! Com tanta miséria e guerra para se preocuparem, eles ficam fazendo biquinho só por causa da própria natureza humana que eles ignoram magistralmente. Melhor pra Mim, que sigo em caminho livre a semear maldade em fatos mais relevantes.

Fatos que virão à tona em breve e que, assim como os que acabo de vos dizer, deverão ser mantidos em sigilo.