Passadas pouco mais de duas horas que a Lei Áurea havia sido assinada pela Princesa Isabel, cerca de duas mil pessoas esperavam por ela na pequena estação de trens em Petrópolis, entre elas ex-escravos e quilombolas. A rapidez da comunicação via telégrafo elétrico, recém-chegado ao Império, levava as boas novas a quase todo o território nacional por onde passavam os fios do telégrafo e limitava a reação anti-abolicionista.
Na capital do Império, no Rio de Janeiro, a festa começou imediatamente ao anúncio da Lei. Era um domingo e o samba estendeu-se por oito dias, até o domingo seguinte. Não houve tempo nem moral para reação.
Tudo parou. Repartições públicas, correios, portos, trens de cargas, escolas, o puteiro da Zezé. A Câmara dos Deputados, mais sensível ao voto e à pressão popular, entrou em recesso por cinco dias. O Senado vitalício, com a opinião dividida, fingiu ignorar a festa popular e oficialmente não suspendeu suas atividades. Não é preciso dizer que o plenário ficou vazio.
As marchas percorriam as ruas das grandes cidades, passando em frente às casas dos ministros e da gente importante, para mostrar-lhes a irreversibilidade do tempo, como que para lhes dizer: "Preste atenção em nosso magote! Não se esqueçam, hein, agora somos livres!"
Todo ministro foi visitado e, mesmo que não simpatizasse com o que acabara de suceder, tinha que aderir ao movimento, correspondendo aos vivas com o mesmo entusiasmo com o qual os recebera. Em Minas, por conta do frio, o vinho e o conhaque foram por conta do Padre Figueiredo Caramuru.
Em Salvador, obviamente, a festa concorria com a da capital do Império. Houve muito discurso, passeatas de estudantes e muita música. No dia 18, sexta-feira de Oxalá, uma multidão de branco saiu em romaria até a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim para agradecer a conquista.
E "quando essa missa terminou e, por toda parte, quando a grande festa conseguiu terminar, dias depois, a escravidão simplesmente não existia mais."